Muda de Amora em 45 Dias: O Segredo da Areia de Construção

Por que usar estacas para multiplicar amoreira?
Gente, descobri o método da estaca de amora por acaso quando meu pai cortou uns galhos da amoreira do quintal e disse: “joga isso na areia ali que vai dar muda”. Achei que era conversa de velho, mas nossa… em 45 dias tinha raiz brotando de todos os galhos!
A amoreira (Rubus fruticosus) tem uma facilidade incrível para fazer raiz. É uma das plantas mais fáceis de propagar por estaca que eu conheço. E o melhor: usando areia comum de construção você consegue 90% de aproveitamento.
Hoje em dia, sempre que alguém quer mudas de amora, eu ensino esse método. É rápido, barato, e quase impossível de dar errado. Só precisa seguir alguns detalhes que fazem toda diferença.
A mágica da areia de construção
Por que areia funciona tão bem?
A areia de construção tem tudo que a estaca precisa para enraizar: drena super bem (evita apodrecimento), mas mantém umidade suficiente, e não tem nutrientes que podem “queimar” a raiz em formação.
Eu uso areia média mesmo, aquela comum de obra. Só passo numa peneira grossa para tirar pedrinhas maiores e galhos. Não precisa lavar não – a sujeirinha até ajuda!
Vantagens sobre outros substratos
Já tentei fazer estacas de amora em substrato comum e húmus, mas a areia ganha disparado. A taxa de enraizamento é muito maior, e as raízes ficam mais fortes e numerosas.
Outro ponto: na areia você vê exatamente quando a raiz está pronta. Fica tudo visível e fácil de acompanhar.
Escolhendo as estacas certas
Melhor época do ano
A época ideal é no finalzinho do inverno e início da primavera – setembro e outubro aqui no sudeste. A planta está “acordando” e tem mais energia para brotar raízes.
Mas confesso que já fiz estacas de amora em outras épocas e deu certo também. Essa planta é muito resistente!
Selecionando os galhos
Escolho sempre galhos do ano – aqueles que cresceram na última estação, nem muito novos (verdes demais) nem muito velhos (muito duros). O ideal são galhos de uns 20-25 cm, com a espessura de um lápis ou um pouco mais.
E sempre corto de manhã cedo, quando a planta está bem hidratada. Uso uma tesoura afiada e limpa para não machucar o galho.
Preparando as estacas
Faço um corte reto na parte de cima (para lembrar qual lado é para cima) e um corte em bisel na parte de baixo. Deixo de 3 a 4 gemas por estaca.
Retiro todas as folhas da metade de baixo, deixando só 2 ou 3 folhinhas no topo. Se as folhas estiverem muito grandes, corto pela metade para diminuir a perda de água.
Passo a passo do enraizamento na areia
Preparando o recipiente
Uso bandejas de isopor dessas de verdura, ou caixotes de madeira. Qualquer coisa que tenha uns 15-20 cm de altura serve. O importante é fazer vários furinhos no fundo para drenagem.
Encho com areia deixando uns 3 cm da borda. Molho bem até a água sair pelos furos de baixo – assim sei que está uniformemente úmida.
Plantando as estacas
Faço buracos na areia com um pauzinho, enterro as estacas até a metade (uns 10-12 cm), deixando 2 gemas embaixo da areia e 2 em cima. Firmo bem a areia ao redor.
Deixo um espaço de uns 5 cm entre uma estaca e outra para não competirem por espaço.
Cuidados durante o enraizamento
Coloco a bandeja num local com luz, mas sem sol direto. Uma sombra clara é perfeito. Sol demais desidrata as estacas antes delas criarem raiz.
A rega é o segredo: molho de levinho todo dia pela manhã. A areia deve ficar sempre úmida, mas não encharcada. Quando aperto um punhado de areia, deve sair só algumas gotinhas de água.
Protegendo do vento e frio
Nos primeiros 15 dias, protejo com um plástico transparente ou deixo dentro de casa mesmo. É a fase mais delicada – as estacas ainda não têm raiz para absorver água direito.
Depois que começam a brotar folhinhas novas, já sei que pegaram raiz e posso tirar a proteção.
Sinais de que deu certo
Primeiros indícios
Entre 15 a 20 dias, começam a aparecer pontinhos brancos na base das estacas – são as futuras raízes! É a parte mais emocionante do processo.
Umas brotações verdinhas também começam a sair das gemas de cima. Quando vejo isso, já sei que o sucesso está garantido.
Raízes bem formadas
Com 45-60 dias, as raízes já estão bem desenvolvidas. Dá para ver elas contornando a estaca na areia. É o momento ideal para transplantar.
Se deixar muito tempo na areia, as raízes podem ficar muito longas e quebrar na hora do transplante.
Transplante para vaso definitivo
Preparando o substrato
Para o transplante, uso uma mistura mais nutritiva:
- 50% terra vegetal
- 30% húmus de minhoca
- 20% areia (a mesma que usei no enraizamento)
Essa mistura garante nutrientes, mas mantém a drenagem que a amora adora.
Cuidado no transplante
Tiro as mudas da areia com muito cuidado, aproveitando que a areia solta fácil. Lavo levemente as raízes só para tirar o excesso de areia.
Planto em saquinhos ou vasos pequenos, na mesma profundidade que estavam na areia. Rego bem e deixo na sombra por uns 3-4 dias para se adaptarem.
Primeiros cuidados no vaso
Nas primeiras semanas após o transplante, rego dia sim, dia não. A terra deve ficar úmida, mas não encharcada.
Quando vejo que estão brotando folhas novas com vigor, já sei que se adaptaram ao novo substrato.
Dicas para aumentar a taxa de sucesso
Hormônio enraizador caseiro
Uma dica que funciona muito bem: antes de plantar na areia, deixo as estacas de molho por 24 horas numa água com açúcar (1 colher de sopa para 1 copo de água). O açúcar estimula o enraizamento.
Canela em pó na água também funciona – além de estimular raízes, previne fungos.
Controle da umidade
Se o local for muito seco, coloco um prato com água perto das estacas para manter a umidade do ar. Isso diminui muito a desidratação.
Seleção rigorosa
Nem todas as estacas vão pegar – é normal. Mas sempre faço mais do que preciso. Se planto 10 estacas, geralmente 8 ou 9 dão certo.
As que não pegam geralmente ficam amarelas ou murchas nos primeiros 15 dias.
Variações do método
Para quem tem pressa
Se você quer acelerar o processo, pode usar um enraizador comercial. Dissolvo conforme a instrução da embalagem e deixo as estacas de molho por 30 minutos antes de plantar na areia.
Com enraizador, em 30 dias já têm raízes bem formadas.
Método da garrafa PET
Para quem vai fazer poucas mudas, uso garrafas PET cortadas. Faço uns furos no fundo, encho com areia, planto as estacas e pronto. Fica mais fácil de controlar a umidade.
Areia + vermiculita
Para estacas mais difíceis (como amora-silvestre), misturo 70% de areia com 30% de vermiculita. Fica ainda mais eficiente, mas custa um pouco mais.
Erros que já cometi (para vocês evitarem!)
Areia muito fina
Uma vez usei areia muito fininha e as estacas apodreceram. A areia muito fina retém água demais e não areja as raízes.
Sol demais
No começo, deixava as estacas no sol direto achando que iam crescer mais rápido. Resultado: todas secaram! Sombra clara é o ideal.
Rega errada
Já perdi mudas por regar à noite. A umidade noturna pode causar fungos. Sempre rego pela manhã para dar tempo de secar durante o dia.
Pressa no transplante
Uma vez transplantei com apenas 30 dias e muitas mudas morreram. Paciência é fundamental – esperar as raízes ficarem bem formadas.
Cuidados especiais por região
Regiões muito secas
Se você mora no semiárido, coloque as bandejas dentro de casa ou numa área bem protegida. A baixa umidade do ar dificulta o enraizamento.
Regiões muito úmidas
No sul, onde é mais úmido, tenho cuidado redobrado com fungos. Uso um pouquinho de canela em pó polvilhada na areia como preventivo.

Altitudes elevadas
Em locais de altitude, onde esfria à noite, protejo as estacas com plástico ou pano nos primeiros 20 dias.
Olha, esse método da areia revolutionou minha forma de fazer mudas de amora! Hoje tenho amoreiras espalhadas por todo o quintal, e sempre tenho mudas sobrando para dar aos vizinhos. O segredo está na simplicidade: areia boa, umidade controlada, paciência, e pronto. Em poucos meses vocês vão estar colhendo amoras das próprias mudas que fizeram. É muito gratificante!